quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O POEMA E O CADÁVER EXQUISITO

um jogo.uma folha de papel,entusiasmo,uns copinhos de ginja.(pode ser scotch,rum,cognac)
o papel é distribuido aos participantes do jogo.
devem escrever uma frase ou duas ou mesmo um parágrafo inteiro.
depois,dobra-se a folha e entrega-se ao seguinte,sem que este veja aquilo que foi escrito.e assim sucessivamente até voltar ao primeiro jogador.pode definir-se um título prévio e neste caso,cada um pode participar com uma palavra,um verbo e/ou um substantivo.mas é facultativo.
tem mais interesse construir um texto e de seguida escolher-se um título.
o dito texto pode resultar uma amálgama confusa de histórias ,embora haja sempre uma continuação caótica e absurda.
ou surrealista.
podemos chamar a este jogo:o cadáver esquisito.

reencontrei um poema meu que deriva de uma sessão em que participei.o cadáver exquisito em questão obedecia a um conjunto de regras pré-estabelecidas.por exemplo tinha de ser iniciado como um poema onde cada jogador inseria determinadas palavras.
"culto" era uma delas e cabia a mim.outra era "flauta" ou "oásis".
houve um que colocou "bicicleta","aspirador" e "vertigem".
aconteceu juntar "nuvem" a "sardinha".



A UM AMIGO QUE DESAPARECEU



FOSTE SUBLIME NA REPRESENTAÇÃO
DE REI-ESCRAVO-OURIVES
A TUA MENSAGEM SURGIU LEGÍVEL
POR ENTRE O SANGUE NO ANFITEATRO
DE UMA CIDADE NUNCA ESQUECIDA
CONHECESTE POR ACASO UM HOMEM QUE VAGUEAVA
SERENO NAS RUAS DE OUTROS HOMENS
TOCANDO UMA FLAUTA MÁGICA
QUE ATRAÍA TODAS AS MULHERES DO REINO?

QUANDO DISSESTE
QUE TODOS MORRERÍAMOS DE SEDE
NÃO TE ENGANASTE.
AINDA HOJE OS OÁSIS DE TODO O MUNDO
SÃO LUGARES DE CULTO.


fui em busca de exemplos e de uma fonte segura

Se você pudesse voltar ao longínquo ano de 1925, um bom local para visitar seria o número 24 da famosa Rue du Château, em Paris. Ali, na casa que o roteirista e ator Marcel Duhamel habitava com outros importantes artistas contemporâneos, costumavam se reunir alguns dos principais representantes do surrealismo no século XX: Yves Tanguy, Marcel Duchamp, Jacques Prévert, Benjamin Peret, Pierre Reverdy, André Breton e outras figuras que dificilmente poderiam ser enumeradas em ordem de grandeza.

Dependendo do momento em que você aparecesse, encontraria o grupo debatendo sobre os principais acontecimentos da época. Mas, como tudo é uma questão de timing, você também poderia chegar mais tarde e surpreendê-los no meio de uma curiosa e – na visão de alguns – pueril brincadeira: o Cadavre Exquis.

Literalmente, a expressão significa “Cadáver Requintado”, embora muita gente utilize traduções menos precisas, como “Cadáver Esquisito” ou “Corpo Estranho”. As regras originais do jogo são desafiadoramente simples: alguém inicia uma frase em um pedaço de papel e o entrega ao próximo participante, para que este continue o texto. Uma terceira pessoa acrescenta mais um trecho à sentença, passando-a àdiante. E assim sucessivamente. No entanto, cada jogador só é autorizado a ler a contribuição do participante imediatamente anterior a ele; o conteúdo inteiro do papel só é revelado no final.

Reza a lenda que o nome do passatempo deriva da frase que surgiu na primeira vez em que os surrealistas da Rue du Château decidiram experimentá-lo: “O cadáver requintado irá beber o novo vinho”. Outros resultados aussi bizarre vieram mais tarde (em tradução livre):

A luz completamente negra estabelece dia e noite a suspensão impotente para fazer o bem.

Monsieur Poincaré, se você quiser, beijos na boca, com uma pluma de pavão, em um ardor que eu nunca vi antes, o atrasado Monsieur de Borniol.

O camarão maquiado dificilmente ilumina alguns beijos duplos.

A Rua Mouffetard, estremecendo de amor, diverte a quimera que dispara sobre nós.

O Pathos, muito emocionado, agradece cantando o projétil de grama picada entre Line e Prâline.

Caraco é uma linda prostituta: preguiçosa como um arganaz, e coberta de vidro por nada fazer, ela encordoa pérolas com os perus da farsa.

Desde aquele comecinho de século, o Cadavre Exquis, além de ter influenciado diversos escritores e poetas que frequentavam a casa de Marcel Duhamel, expandiu-se com energia de gente viva para quase todos os segmentos artísticos. Nas artes plásticas, a técnica não apenas é usada para criar colagens e desenhos coletivos, mas também já gerou projetos como este interessantíssimo experimento da Asia-Europe Foundation, ou o recém-lançado The Exquisite Books: 100 Artists Play a Collaborative Game.

Nas telas, a coisa alcança um patamar ainda mais incrível. Se você mantém um rol de experiências instigantes, certifique-se de acrescentar a ele a animação oitentista AniJam, o filme Cadavre Exquis Première Édition e o sensacional documentário tailandês Misterious Object at Noon (dividido em 9 partes no YouTube), em que moradores de vilarejos do país constroem juntos uma história de ficção, ao mesmo tempo em que contam passagens marcantes de suas próprias vidas.
Bruno Lacerda

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