quinta-feira, 3 de abril de 2014

para ler

Lolita

"Lolita" de Vladimir Nabokov (Biblioteca Visão)

Sinopse:
Humbert Humbert é um professor de meia-idade e Lolita, a filha da sua senhoria, é uma jovenzinha de doze anos perturbadoramente bela e provocante. Com estes elementos foi contruída a história da obsessão amorosa mais famosa do século XX, um apaixonante romance de amor que abala todas as consciências ao destapar a poderosa e «perversa» atracção que podem exercer as denominadas «ninfitas». Este itinerário desenfreado pelas estradas da loucura e da morte, que mergulha nas paixões humanas até as levar ao extremo, é também um retrato devastador dos Estados Unidos de meados dos anos cinquenta, com os seus horrores suburbanos e a sua triunfante subcultura.

Opinião: 
Este é um daqueles livros que se percebe bem como se tornou um clássico.
Uma narrativa empolgante e envolvente, uma história que chocou ou marcou gerações, um livro intemporal, na medida em que se poderia passar nos dias de hoje e não é difícil de o imaginar.
A escrita do autor é subliminar, e confesso que foi isso que me manteve agarrada ao livro e me fez não desistir dele quando a história começou a perder interesse.
O facto de o livro ser escrito como uma memória torna-se arrepiante. O autor conseguiu exprimir tão bem a personagem de H.H. que confesso ter sido quase impossível não o sentir como uma biografia arrepiante, um olhar pormenorizado para a mente de um pedófilo. O facto de ser contado na primeira pessoa tornou tudo muito mais vivo, muito mais palpável e confesso que tive muitas vezes vontade de deixar a leitura porque me deixava "suja".
O princípio arrastou-se um pouco, mas confesso que percebi a necessidade para tal narrativa e foi interessante ler o que o H.H. pensava serem as razões que o levaram a tornar-se no que era.
O problema do livro começou pouco depois do meio, onde a história se arrastou, a escrita divagou por pormenores, pessoas e momentos que não faziam evoluir a história e que se tornavam entediantes. À medida que a narrativa avançava eram cada vez mais constantes estes momentos de não-evolução que massacraram a história e tornaram a leitura enfadonha. Isto destruiu a minha vontade de ler o livro, mas persisti porque queria saber o fim (e não sou de saltar parágrafos embora a vontade fosse muita). No final, a narrativa voltou a fluir consistente, mas ainda assim o autor perdeu um ou dois capítulos a explicar coisas sem qualquer importância e que, mais uma vez, eram perfeitamente dispensáveis.

Uma das coisas que mais me incomodou na leitura, e talvez fosse culpa da edição que li, foram as incontáveis expressões em Francês que apareciam ao longo de toda a história. O problema não era estarem em francês, pois este uso é justificado, o problema foi que não traduziram (em nota de rodapé ou parêntises) o que perturbou muito a minha leitura já que não sou grande conhecedora da língua francesa, embora tenha algumas bases. Este não é primeiro (nem, infelizmente, o último) livro que leio que cai neste erro. Isto, a meu ver, é uma falta de respeito para com o leitor que não tem de saber línguas para ler algo editado em Português. Como disse, justifica-se que mantenham as expressões na língua original, mas em respeito ao leitor e para ter uma boa tradução, devem fornecer a tradução, mesmo que perca algum sentido, para que o leitor que não sabe línguas possa compreender o que está a ler. Nunca compreendi porque tantos teimam em quebrar esta regra básica da edição em português. Não é óbvio que se compro a edição portuguesa é porque quero ler em português? A mim parece-me claro como a água mais cristalina, mas para muito editores parece que não é bem assim.

Em suma este é, definitivamente, um clássico que aconselho todos a lerem (ou pelo menos a tentarem). Com uma escrita fantástica e uma profundidade assustadora na mente de H.H., mas que peca no desenvolvimento daquela que, a meu ver, devia ser o foco central: a Lolita. Compreendemos quem é e porque faz o que faz, mas aos olhos daquele que diz amá-la tanto, ela não chega a ser compreendida como deveria de ser.
Pecando por se arrastar, este livro não deixa de ser uma leitura obrigatória.

Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

Capa (Ilustração) de André Kano


Nota: Esta leitura foi feita no âmbito do Desafio Literário 2010Floresta de Livros