CANTINHO DA BÉ

voar com suas  cores vivas, atraentes, e vê-lo ir para longe, até desaparecer no horizonte.
Mas o meu mar, é diferente.Ela é a maturidade, é a beleza vista com outros olhos, não os de criança que apanhava conchinhas, mas a mulher que de manhã abre a porta e o Alentejo entra por ela adentro, e a fragrância dos pinheiros, o cheiro fresco sobe por todo o corpo e inibria.O cantar dos pássaros, aquela linguagem mística que entra pelos ouvidos e dá vontade de dançar no silêncio da terra virgem. Não são pessoas, mas falam mais que muitas, que travam monólogos, todos os dias iguais, enfadonhos, entediados.
Mas... o mar, esse mar com quem se pode falar, porque ele responde, na onda que vem, na onda que vai, sentada na areia espero, contamos segredos, histórias, pedimos conselhos, muitas vezes grita, outras vezes chora, e outras simplesmente responde com um silêncio decifrável, mas a resposta chega no azul, no peixe que nada enrrolado no branco onde tantas vezes me visto... e eu farei parte de ti, e tu farás parte de mim.Eu sou tua, tu és meu, meu mar imenso, que não te sei o fim, mas sei onde começas e onde eu me deito e contigo respiro, contigo vivo, contigo amo".
"Às asas da gaivota me agarrei, no seu dorso me sentei,  seria um voo alto, distante.
No azul entrei, e olhava em redor, e o azul do mar estava a ficar longe, mas misturavam-se, os azuis e os verdes, as pessoas eram seres pequeninos que já pouco se visualizavam.
Nas nuvens balancei e entrei, pensei ser a minha almofada branca, macia, onde me sentia segura, mas rápido percebi que delas escorriam gotas de água.....andei mais um pouco e o sol sorriu para mim, e as gotas abraçaram-se com o sol e surgiu um arco-íris de cores fantásticas peguei nelas e transformaram-se em lápis de cor, fiz então um desenho, quase infantil e mais uma vez entendi que era ali que queria ficar por algum tempo no silêncio entre os azuis e as cores fantásticas, observando o mundo, por vezes cruel, desumano, mentiroso.
Mas ali não, tudo era puro, colorido, e via as crianças brincar, sem lágrimas, só precisavam  agarrar o arco-íris nas suas mãos pequeninas e sorrir"VIDA _ O LIVRO DE TODOS NÓS

 VIDA _ O LIVRO DE TODOS NÓS

Provavelmente a nenhum de nós ocorreu, ou pensou que todos somos um livro_________ talvez um livro por "publicar". Nascemos de duas histórias que se encontraram numa estante qualquer,cada um com uma história guardada, e escrita, cumprimentaram-se, trocaram olhares, e  entre os dois o amor aconteceu, aconteceu magia e surgiu um romance entre eles. Quiseram juntos escrever mais uma história, que ao fim de algum tempo nasceu branca, sem letras, sem palavras, sem história ainda por escrever, o tempo foi passando e mais histórias nasceram e eram histórias lindas, e as páginas começaram a ser preenchidas, ilustradas, umas a cores, outras a preto e branco, uns dias com sorrisos, outros com lágrimas, mas os capítulos seguiam o seu rumo, caminhavam, voavam, umas mais breves, outras mais longas, conforme tinham sido traçadas nas estrelas, ou conforme os dedos que as escreviam. Nós escrevemos a nossa própria história todos os dias, somos nós que escrevemos o livro, e ele será tão mágico quanto o empenho que nós depositamos nele, e o tempo que lhe dedicamos, APENAS MENINOS
ra, muito mágica, diferente das outras, aquele menino de olhos meigos e doces passou a povoar a minha imaginação.Fizémos planos nas nossas cabeças ingénuas de crianças.Brincávamos na rua, ele de calções até ao joelho, eu com um vestido cor-de-rosa com florinhas, e na cabeça os meus lacinhos colocados num cabelo liso muito esticado e bem penteado, corríamos, subíamos às árvores, colhíamos flores no campo, que ele me punha nas mãos e no cabelo graciosamente, flores com seus perfumes e aromas magníficos, corríamos pelos campos, mergulhávamos no mar azul, nadávamos com os golfinhos, respirávamos o mesmo ar todos os dias, sempre juntos.Nunca nos conseguimos tocar, sentia que ele me chamava a toda a hora, que precisava de mim, da minha mão, precisávamos tocar a mão um do outro, mas não chegávamos lá, algo nos impedia, era estranho, estar com alguém e não o poder tocar.Mas aquele sonho como todos era só um sonho, não era real, e eu não consegui tocá-lo, pegar-lhe na mão, apertá-la bem forte e dizer-lhe:- estou aqui. Acho que me apaixonei por aquele menino de olhos ternos e tristes, que no fundo..... no fundo estava tão longe de mim como as estrelas no céu que queremos tocar e nunca lá conseguimos chegar, era assim connosco.Era um holograma, inatingível como todos os hologramas.Mas um dia esse menino deixou de me visitar como fazia todos os dias, partiu, partiu sem dizer nada quem sabe para outra estrela, para outro planeta, bem longe daqui, sem o tocar, sem uma despedida, sem um carinho, sem uma ternura, a mão que eu queria agarrar com força, para podermos selar a nossa amizade para sempre, mas o sonho esfumou-se na madrugada.Mas passado todo este tempo esse menino de olhos doces e ternos mas muito tristes, continua a povoar os meus sonhos de menina.E nas noites, em que as estrelas brilham intensamente, olho para o céu e ainda espero que um dia ele me dê um sinal, e apareça sorrindo, dizendo:- eu estou aqui, vamos os dois brincar!!!PERFUME DE MULHER
Numa terna suavidade
de bailarina,
em que a música ecoava,
numa sonoridade divina
e entrava pelos ouvidos dentro,
vibrou seu peito.
***
Seus pés desnudados
pisaram a terra vida,
num perfume que enfeitiçava
e a natureza perfumava,
em seus pés percorria
todo o corpo de mulher,
e as veias de sangue enchia
esse corpo de mulher
traçado pelas mãos de Deus
que perfeito o fez.
***
E o perpetuou,
para todo o sempre,
e de outra mulher feito ventre,
entre gritos e gemidos,
na perfeição de o SER.NOSTALGIA OUTONAL

Dias que se preenchem no silêncio das palavras entre sorrisos e lágrimas dos dias que custam a passar.
Através da janela fechada foscamente embaciada observo ao longe o mar e chega-me o cheiro de um mar distante, a sirene do farol em dia de nevoeiro, mar que me perturba, que me faz bailar entre espumas e brancos rendilhados, lençois de linho lavados, cheirosos, perfumados pelos corpos dourados do sol nascente de outras estações, numa vontade desenfreada de vida.
Agora bailam folhas que me escorregam debaixo dos pés mais calçados, pesados, que outrora leves como o fui, um dia bailarina, e nas sapatilhas cor-de-rosa, era ave que voava por entre sonhos, bailados de voos longínquos, gaivotas que partem sem destino, e as árvores despidas de nada, tapetes ficam deitadas onde queria descalça molhar os pés e sentir a água virgem que cai num balancé.
Mas neste ciclo que não pára e roda e roda numa despedida dolorosa até que de novo o Sol desponte outra vez no horizonte em rasgos de vida,  então voltarei a viver numa poesia mais ardente entre outros sorrisos.BOLAS DE SABÃO
Em bolhas coloridas
feitas de sabão
com meus olhos de menina
nelas entrei
eram cores de arco-íris
nelas me deixei ir
e vi coisas incríveis
coisas nunca vistas.

Nos campos vi flores
no mar sereias
encantadas
no ar as gaivotas
que já não eram brancas
vestiram-se de cores fantásticas
então binquei, brinquei
até me cansar
da terra, mergulhei no mar
e nadei com os golginhos
e voei pelo ar
e quis tornar esse momento
infindável
só por ter entrado
numa simples bolha de sabão
que voava, e me levava 
com ela
para sítios
onde a magia acontecia.

Isabel Cabral
inédito 20-05-2012









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