Mostrando postagens com marcador POESIA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador POESIA. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

COM MÁRIO CESARINY


Gostei · 26 de Novembro de 2014 · 
 

Mário Cesariny — 09-08-1923 § 26-11-2006

VOZ NUMA PEDRA

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco-íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

Mário Cesariny, in «Pena Capital». Ed. Assírio & Alvim

sábado, 22 de novembro de 2014

"És certamente um eclipse das horas planas e da argila formal,

Uma flor azul a pairar sob um cântico de borboleta."
in A COR DA GAIVOTA by JOÃO PAULO CALADO

Apresentarei daqui em diante  em diante alguns trechos da minha autoria juntando uma salada de imagens.
E assim configuro o meu blog renascendo em espaços com novo aroma.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

com o MÁRIO

O jovem mágico
O jovem mágico das mãos de ouro que a remar não se cansa muito e olha muito depressa (como se fosse de moto) veio hoje ficar a minha casa
Vivia longe
longe já se sabia
tão longe que era absurdo querer determinar
metade campo metade luz
aí era a sua casa o sítio onde era longe
mesmo de olhos
fechados (como ele estava)
e de braços cruzados (como parecia dormir)
o jovem mágico das mãos de ouro
que era todo de empréstimo à minha noite
que falou
por acaso que nem se chamava assim
(segundo também contou) tinha vivido há muito
ele, que estava ali, era um falsário
um fugido de outro basta ver os meus olhos
nada sabemos
de nós a não ser que chegamos
sem uma luz a esconder-nos o rosto
belos e apavorados de estranhos casacos vestidos
altos de meter medo às aves de longo curso
nem há
noites assim não há encontros
ao longo das enseadas
não há corpos amantes não há luzeiros de astros

sob tanto silêncio tão duradoura treva
e não
me fales nunca eu sou surdo eu não te oiço
eu vou nascer feliz numa cidade futura
eu sei atravessar as fronteiras das coisas
olha para as minhas mãos que te pareço agora?
No entanto
surgiu como simples criança
conseguia sorrir sentar-se verter águas
com as maõs na cintura livre natural
ele que era um fantasma um fugido de outro
um que nem
mesmo se chamava assim
o jovem mágico nu de todos os sítios da Terra


http://www.escritas.org/

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

PARA UMA AMIGA

Segue o álbum do(a) Joao POETRYno Pinterest. 





BRUMAS
OLHEI O CÉU.DE UMA JANELA INVENTADA.NUVENS AGUARELADAS
CARVÃO SUAVE INUNDAM A MINHA ÍRIS DE MÚSICA.
ODORES TRISTES A BALOIÇAR NAS MINHAS PERNAS.
EU,SENTADO NUMA CADEIRA INVENTADA
OBSERVO OS PRIMEIROS DESENHOS DA NOITE.
CHEIRAM A JARDINS ESCONDIDOS POR DETRÁS DO FUMO.
SEM ME DEBRUÇAR,ESPREITO A TEXTURA BAILARINA
DAS NUVENS
DESFAZEM-SE MÁGICAS NUM ABRIR E FECHAR DE OLHOS.
PARECEM ESTAR BRINCANDO.E FORMAM CONJUNTOS DE CASTELOS
DE AREIA,NAVIOS REMOTOS COM ASAS DE ALBATROZ,CORPOS
DANÇANDO NA ORLA DO TEMPO,DO MEU ESCASSO TEMPO.
EU AGORA ESCUTO
 APENAS UMA CORTINA VAGA TRANSLÚCIDA,
UM PERFUME SONORO DE ACORDES LENTOS NOS MEUS CABELOS
BRANCOS.A RAINHA DA NOITE CONVIDA-ME PARA UM FESTIM.
MAS ONDE ENCONTRAR O PORTAL DE FANTASIA?SEGURO DE MEUS PASSOS
PROCURO POR ENTRE PÁGINAS AO VENTO.CAMINHO NO PERDER-ME
ATÉ ENCONTRAR-ME




quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O POEMA E O CADÁVER EXQUISITO

um jogo.uma folha de papel,entusiasmo,uns copinhos de ginja.(pode ser scotch,rum,cognac)
o papel é distribuido aos participantes do jogo.
devem escrever uma frase ou duas ou mesmo um parágrafo inteiro.
depois,dobra-se a folha e entrega-se ao seguinte,sem que este veja aquilo que foi escrito.e assim sucessivamente até voltar ao primeiro jogador.pode definir-se um título prévio e neste caso,cada um pode participar com uma palavra,um verbo e/ou um substantivo.mas é facultativo.
tem mais interesse construir um texto e de seguida escolher-se um título.
o dito texto pode resultar uma amálgama confusa de histórias ,embora haja sempre uma continuação caótica e absurda.
ou surrealista.
podemos chamar a este jogo:o cadáver esquisito.

reencontrei um poema meu que deriva de uma sessão em que participei.o cadáver exquisito em questão obedecia a um conjunto de regras pré-estabelecidas.por exemplo tinha de ser iniciado como um poema onde cada jogador inseria determinadas palavras.
"culto" era uma delas e cabia a mim.outra era "flauta" ou "oásis".
houve um que colocou "bicicleta","aspirador" e "vertigem".
aconteceu juntar "nuvem" a "sardinha".



A UM AMIGO QUE DESAPARECEU



FOSTE SUBLIME NA REPRESENTAÇÃO
DE REI-ESCRAVO-OURIVES
A TUA MENSAGEM SURGIU LEGÍVEL
POR ENTRE O SANGUE NO ANFITEATRO
DE UMA CIDADE NUNCA ESQUECIDA
CONHECESTE POR ACASO UM HOMEM QUE VAGUEAVA
SERENO NAS RUAS DE OUTROS HOMENS
TOCANDO UMA FLAUTA MÁGICA
QUE ATRAÍA TODAS AS MULHERES DO REINO?

QUANDO DISSESTE
QUE TODOS MORRERÍAMOS DE SEDE
NÃO TE ENGANASTE.
AINDA HOJE OS OÁSIS DE TODO O MUNDO
SÃO LUGARES DE CULTO.


fui em busca de exemplos e de uma fonte segura

Se você pudesse voltar ao longínquo ano de 1925, um bom local para visitar seria o número 24 da famosa Rue du Château, em Paris. Ali, na casa que o roteirista e ator Marcel Duhamel habitava com outros importantes artistas contemporâneos, costumavam se reunir alguns dos principais representantes do surrealismo no século XX: Yves Tanguy, Marcel Duchamp, Jacques Prévert, Benjamin Peret, Pierre Reverdy, André Breton e outras figuras que dificilmente poderiam ser enumeradas em ordem de grandeza.

Dependendo do momento em que você aparecesse, encontraria o grupo debatendo sobre os principais acontecimentos da época. Mas, como tudo é uma questão de timing, você também poderia chegar mais tarde e surpreendê-los no meio de uma curiosa e – na visão de alguns – pueril brincadeira: o Cadavre Exquis.

Literalmente, a expressão significa “Cadáver Requintado”, embora muita gente utilize traduções menos precisas, como “Cadáver Esquisito” ou “Corpo Estranho”. As regras originais do jogo são desafiadoramente simples: alguém inicia uma frase em um pedaço de papel e o entrega ao próximo participante, para que este continue o texto. Uma terceira pessoa acrescenta mais um trecho à sentença, passando-a àdiante. E assim sucessivamente. No entanto, cada jogador só é autorizado a ler a contribuição do participante imediatamente anterior a ele; o conteúdo inteiro do papel só é revelado no final.

Reza a lenda que o nome do passatempo deriva da frase que surgiu na primeira vez em que os surrealistas da Rue du Château decidiram experimentá-lo: “O cadáver requintado irá beber o novo vinho”. Outros resultados aussi bizarre vieram mais tarde (em tradução livre):

A luz completamente negra estabelece dia e noite a suspensão impotente para fazer o bem.

Monsieur Poincaré, se você quiser, beijos na boca, com uma pluma de pavão, em um ardor que eu nunca vi antes, o atrasado Monsieur de Borniol.

O camarão maquiado dificilmente ilumina alguns beijos duplos.

A Rua Mouffetard, estremecendo de amor, diverte a quimera que dispara sobre nós.

O Pathos, muito emocionado, agradece cantando o projétil de grama picada entre Line e Prâline.

Caraco é uma linda prostituta: preguiçosa como um arganaz, e coberta de vidro por nada fazer, ela encordoa pérolas com os perus da farsa.

Desde aquele comecinho de século, o Cadavre Exquis, além de ter influenciado diversos escritores e poetas que frequentavam a casa de Marcel Duhamel, expandiu-se com energia de gente viva para quase todos os segmentos artísticos. Nas artes plásticas, a técnica não apenas é usada para criar colagens e desenhos coletivos, mas também já gerou projetos como este interessantíssimo experimento da Asia-Europe Foundation, ou o recém-lançado The Exquisite Books: 100 Artists Play a Collaborative Game.

Nas telas, a coisa alcança um patamar ainda mais incrível. Se você mantém um rol de experiências instigantes, certifique-se de acrescentar a ele a animação oitentista AniJam, o filme Cadavre Exquis Première Édition e o sensacional documentário tailandês Misterious Object at Noon (dividido em 9 partes no YouTube), em que moradores de vilarejos do país constroem juntos uma história de ficção, ao mesmo tempo em que contam passagens marcantes de suas próprias vidas.
Bruno Lacerda

terça-feira, 23 de setembro de 2014

POESIAS UNIVERSAIS:PABLO NERUDA

Pablo Neruda
Saudade Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...

Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage
Tema(s): Saudade  Ler outros poemas de Pablo Neruda 

POESIAS DE CÁ


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Fernando Pessoa
Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada.
(I think of life as an inn where I have to stay until the abyss coach arrives. I don’t know where it will take me, for I know nothing.)
Fernando Pessoa, The Book of Disquiet